sexta-feira, 15 de abril de 2011

Projecto Entrescrita - Pedro Pinto


PEDRO PINTO nasceu em Lisboa no dia 20 de Março de 1971. É casado e tem 2 filhos. Jornalista desde 1997, é coordenador e apresentador do Jornal Nacional da TVI desde 2000. Licenciado em Relações Internacionais, possui também o Mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). É professor na Universidade Autónoma de Lisboa desde 1996, responsável pelas cadeiras de Integração Económica e de Newsroom. Para além disso, é coordenador da Pós-Graduação em Televisão e professor convidado em diferentes mestrados. 

Obra 
O Último Bandeirante, 2009 



Como surgiu “O Último Bandeirante”? 
Surgiu numa viagem ao Brasil, a meio caminho da Amazónia - uma região que durante anos fundiu em mim a palavra mistério e ambição, num sonho que ia finalmente cumprir. 
Numa visita ao Museu de Arte de São Paulo, deparei com um mural onde estava desenhado um trajecto que partia do Sul do Brasil, chegava aos Andes e descia o Madeira, para depois palmilhar todo o Amazonas. Uma viagem com mais de 400 anos e feita por um português, de quem nunca tinha ouvido falar. Descobrir e contar a história desse grande aventureiro desconhecido, um David Crockett português, foi como que embarcar numa outra grande viagem. 

O que é para si um livro?
A oportunidade de me despojar das âncoras da vida - e de alguma cobardia, confesso - para viver todas as vidas que nunca tive coragem de viver. Mas, para tanto, é preciso que as personagens tenham a estirpe de um Corto Maltese, por exemplo. 

Neste momento, qual o seu “livro de cabeceira”?
Quando escrevo um romance evito ler romances, pelo que opto, normalmente, pelas biografias. Estou a ler a história de Bernie Ecclestone, o homem que tornou a F1 um desporto milionário e verdadeiramente global, ainda antes da queda do muro de Berlim. Um homem de 80 anos, que continua a trabalhar como se tivesse 25, percorrendo o Mundo, dirigindo todo aquele Circo. 

Qual o escritor que mais admira?
Phillip Roth pela inteligência da escrita, a forma límpida, fria, quase cirúrgica mas, ao mesmo tempo, profundamente tocante, com que aborda os temas da existência, desde a sexualidade à morte. 
Ferreira de Castro pelo sentido de aventura, pela iniquidade, injustiça e desigualdade entre ricos e pobres - não necessariamente em termos ideológicos - que explicitou de forma pungente em toda a sua obra. 

Na sua opinião, de que forma as Bibliotecas influenciam a formação dos escritores?

As bibliotecas são a melhor oportunidade para descobrirmos novos autores e abrirmos a grande porta do conhecimento. Numa biblioteca, todas as desigualdades se esbatem e cada um pode moldar os seus gostos, as suas ambições, o seu eu interior sem restrições económicas ou de qualquer outra índole. É o espaço fechado mais aberto ao mundo que conheço. 


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sugestão de Leitura: "O Arquipélago da Insónia"

António Lobo Antunes

Excerto
«Começamos por uma casa, pelo sentimento uma força em exercício, um poder que vem de há muito tempo, quando essa casa era igual mas era uma herdade, um latifúndio, quando nada faltava - a família, as empregadas na cozinha, o feitor, os campos, a vila ao fundo, e a voz do avô a comandar o mundo.
Agora há fotografias no Alentejo em vez de pessoas, e há objectos, cientes que também acabarão sem ninguém, há memórias de quem dorme, ou morreu, mortos que não sabem se a vida foi vida, há os irmãos, um é autista, e a imagem da mãe muito nítida, sempre de costas
"(alguma vez a vi sem ser de costas para mim?)". 
Nessa altura já não se sabia a que cheira o vento, como não se sabe para onde foi a Maria Adelaide, morta também, foi para Lisboa?
A herdade foi tirada ao autista, e a doença (de quem?) é um arquipélago branco nas radiografias dos outros, um arquipélago normal, inocente. Estão todos mortos ou estão todos a sonhar e trocaram de sonhos, como se pudessemos trocar de sonhos. 
De qualquer forma, sabemos que daqui a nada será manhã - mas aquilo que se disse ainda se ouve lá dentro
"(-Não precisa de se casar comigo menino o seu pai nunca casou comigo)"E então vamos sabendo que não serámanhã nunca.»